sexta-feira, 13 de março de 2020

O crime do poço

Olá pessoal! Conforme falei no vídeo sobre o Edifício Joelma, esse post é um complemento do combo de 2k do Canal Myllas Freitas.

De início, conforme falei no vídeo sobre o Edifício Joelma, segundo pesquisas, em uma das fontes há a menção de que o local em que foi construído o Edifício não foi no local em que ocorreu o crime do poço apesar da maioria das reportagens dizerem que sim. Segundo essa fonte, no local em que estava o imóvel em que ocorreu o crime do poço foi construído um estacionamento, que fica nas proximidades do Edifício Joelma

O que seria o crime do poço?


Esse crime foi uma tragédia familiar em que basicamente consistiu em uma vingança de um filho para com a mãe e as irmãs que não aceitavam seu romance com uma enfermeira que, segundo informações, não seria mais virgem, indo totalmente de encontro aos padrões da época, o que seria um escândalo para a sociedade da década de 1940.


Os personagens dessa história seriam Paulo Ferreira de Camargo (alguns citam 25 e outros 26 anos), sua mãe Benedita de Camargo (56 anos) e suas duas irmãs Maria Ferreira de Camargo (23 anos) e Cordélia Ferreira de Camargo (19 anos).


Quem era Paulo Camargo?


Recém-formado em química pela Universidade de São Paulo (USP), o professor assistente Paulo Ferreira de Camargo dedicava-se a experimentos estranhos no laboratório da faculdade, além disso chegou a fazer disparos com uma arma de fogo, alegando que gostaria de verificar "os efeitos de atrito nos materiais que compõem a pólvora", sendo repreendido pela reitoria da universidade.


Ademais, outro fato bastante estranho e suspeito consistia nas perguntas esquisitas que fazia ao seu superior, o Dr. Hoffmann, como, por exemplo, quais os melhores agentes químicos para efetuar a corrosão de cadáveres. (realmente muito estranha essa curiosidade?!). Para os vizinhos e amigos, ele era tido apenas como um sujeito excêntrico.


Família Camargo e criação


O que se sabia da vida da família Camargo era que, tanto Paulo quanto as irmãs, órfãos de pai desde muito cedo, receberam uma educação rígida da mãe, Benedita Ferreira de Camargo. Ela sempre fez de tudo para manter o padrão de vida dos filhos, mas suas reservas financeiras estavam se esgotando e as esperanças de arrimo foram todas depositadas no único filho homem. 

Pode-se imaginar o que representou para Benedita, naquele tempo, a revelação de que Paulo havia se apaixonado por uma moça que não era mais virgem. Tanto ela quanto as filha fizeram uma acirrada campanha contra o relacionamento de Paulo com a ex-balconista Isaltina dos Amaros, 23, que agora trabalhava como assistente de enfermagem. 

Além disso, para aumentar o peso sobre costas de Paulo, o químico ainda tinha sob sua responsabilidade o tratamento de Maria Antonieta, diagnosticada com esquizofrenia.

Brigas constantes e planejamento do crime


Paulo Ferreira enfrentava constantes brigas com sua mãe e suas duas irmãs em virtude de seu namoro com a enfermeira já citada e, segundo informações, ele arquitetou todo o plano para colocar um fim na vida de seus familiares por já estar irritado com a intromissão delas em seu relacionamento.

Ele contratou dois serventes para construir um poço de 5 metros nos fundos da residência da família, concluindo o trabalho no mesmo dia. Para a mãe e para as duas irmãs, a justificativa para a construção do poço era de que pretendia desenvolver uma fábrica doméstica de adubos e que não poderia proceder à engenhoca usando água encanada.


Certo dia, então, ele resolveu por seu plano em prática: reuniu-se com a família para lancharem como normalmente faziam, sendo que, de modo furtivo, nesse dia, ele colocou um sonífero no alimento de sua mãe e de suas duas irmãs, as quais, drogadas, dormiram rapidamente.

Com a primeira parte do plano realizada, ele pegou um revólver e efetuou vários disparos contra elas, que morreram na hora. Em seguida, ele colocou um capuz na cabeça das vítimas e arrastou-as para os fundos da casa, jogando-as no poço recém-construído.

Depois desse triplo assassinato, Paulo levava uma vida "normal", entretanto seus vizinhos começaram a desconfiar do sumiço das três mulheres. Nesse caso, ele dizia que havia feito uma viagem ao Paraná com a mãe e as irmãs e que elas haviam morrido em um acidente de automóvel, mas as pessoas não "caíram" fácil nessa explicação, já que ele não aparentava tristeza, não havia notícias em jornais desse acidente e ninguém sabia dos corpos.

Denúncias do desaparecimento


Diante do não convencimento da história narrada, foram realizadas algumas denúncias à polícia, inclusive alguns vizinhos narrando terem ouvido no imóvel barulhos de tiros e uma estranha movimentação nos fundos da casa, próximo ao poço.


Em 23 de novembro de 1948, a polícia se dirigiu ao local (rua Santo Antônio, n.º 104, centro de São Paulo) e, ao conversar com Paulo, observa que ele começa a entrar em contradição: ora sua mãe e irmãs viajaram. ora sofreram um acidente.

O desfecho do mistério


Considerando as contradições de Paulo, bem como as informações dos vizinhos, a polícia se dirigiu aos fundos da residência e seguiram em direção ao poço, o qual exalava um forte odor que subia do buraco, tendo, então, sido convocado o Corpo de Bombeiros para averiguar o que havia lá dentro.

Junto com os oficiais, o próprio Paulo acompanhava os trabalhos. Entretanto, quando ele percebeu que estavam próximos a descobrir o que de fato acontecera com sua mãe e irmãs, ele pediu para ir ao banheiro e, de lá, acompanhou pelo vitrô a retirada do corpo das três mulheres de dentro do poço.



Vendo que seu crime "perfeito" havia sido descoberto, ele pega o revólver que havia escondido no banheiro e comete suicídio com um tiro no peito, deixando para trás suposições sobre o real motivo dos homicídios.

Perícia


Pelo que foi apurado em perícia, o crime foi perpetrado em duas etapas.

Primeira etapa: Entre 9h e 10h do dia 04 de novembro de 1948, Paulo matou a mãe e a irmã mais velha, Maria Antonieta, na sala da casa, e arrastou os corpos até o quintal dos fundos. 

Segunda etapa: A terceira vítima, Cordélia, que trabalhava como datilógrafa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, foi executada por volta do meio-dia quando chegava em casa para almoçar.

Antes de jogar os corpos emborcados no poço, ele encapuzou os três com panos pretos.

Morte do bombeiro

Depois do resgate dos corpos do fundo do poço, um dos bombeiros morreu de infecção cadavérica (tipo de infecção adquirida quando uma pessoa sem as devidas proteções, não utilizando luvas e máscaras apropriadas, realiza contato com cadáveres, adquirindo dessa forma infecções diversas pelo corpo, podendo levar em alguns casos até a morte), sugerindo ser uma maldição do local.


Cemitério

Tanto Paulo Ferreira de Camargo, quanto a mãe e as irmãs foram enterradas no Cemitério da Consolação, em São Paulo. (OBS: Eu cheguei a visitar o cemitério da consolação fazendo uso do app para uso no local e não consegui localizar a sepultura dos quatro no local).

Entrevista com a enfermeira

Em 25 de novembro de 1948, os jornais publicaram uma entrevista com a enfermeira, namorada do Paulo, e ela confirmou a pressão da família contra o namoro.

Repercussão do caso

O modernista Oswald de Andrade tentou justificar os motivos que teriam levado o assassino a agir dessa maneira.

Entre 11 e 16 de dezembro de 1948, Andrade escreveu uma série de cinco artigos sobre o episódio. Publicada na Folha da Manhã com o título “Crime sem castigo”, a série recebeu chamada de capa no jornal. Neles, além de (Fiódor) Dostoiévski, Oswald de Andrade evocou Jean-Paul Sartre, mais especificamente O Ser e o Nada. 

Em um dos artigos, Andrade causou polêmica ao justificar a atitude do assassino, atacando a moral conservadora da época. Escreveu ele: 

“Com a violência da censura ancestral, Paulo viu agigantar-se diante dele a família inútil. A psicogênese do crime evidentemente já trabalhava em seu inconsciente. Chegou o momento em que ele gritou ‘não!’ àquela pobre gente, que representava a incompreensão e o tabu das velhas castas e dos superados preconceitos”. 

O caso ainda inspirou a jornalista Helena Silveira, autora de uma peça chamada O Poço. O espetáculo marcou a estreia do Teatro Cultura Artística.

Então, pessoal, espero que tenham gostado de pesquisa para esse post para complementar o combo especial de 2K do canal. se não conhece o canal, segue o link: Canal Myllas Freitas

Um comentário:

  1. umas das historias mais sinistras que eu li, e ha quem diga q o edificio joelma nasceu amaldiçoado por causa disso.

    ResponderExcluir