O programa
Search for Extraterrestrial Intelligence (SETI) que o famoso astrónomo
americano Carl
Sagan tanto acarinhou quando foi lançado, em 1959, já teve
alguns episódios de captação de sinais misteriosos, que depois se revelaram
falsos alarmes.
Mas qual é a probabilidade de a rede de
radiotelescópios terrestres que integram o projeto SETI poderem detectar um
"Olá, estamos aqui" vindo do fundo do espaço?
Para pôr ordem
nas prioridades desta busca, um grupo de astrofísicos propôs agora, na revista
científica International Journal of Astrobiology, a criação de uma nova escala
para classificar os sinais detectados: a escala
Rio 2.0.
De acordo com
a proposta do grupo liderado por Duncan Forgan, da Universidade de Edimburgo,
no Reino Unido, a Rio 2.0 - que é adaptada de uma escala já usada por cidadãos
cientistas igualmente empenhados nesta busca, e designada escala Rio - tem um
total de 10 graus, em que o zero corresponde a “nada provável” e o 10 seria um “contato
direto”.
A proposta,
escrevem os seus autores, pretende três objetivos.
Primeiro:
"conseguir um consenso científico para a classificação de sinais
potencialmente indicadores da existência de vida extraterrestre avançada";
Segundo: "criar
um instrumento pedagógico, capaz de informar o público sobre o processo usado
pelos cientistas para descodificar os sinais detectados";
Terceiro:
"poder calibrar as expectativas do público, quando eventuais sinais são
discutidos nos media".
A ideia geral,
no fundo, é padronizar sinais e respectivas respostas da comunidade científica
e descartar mais facilmente questões técnicas na origem dos sinais captados,
como um eventual problema num telescópio, ou uma frequência de rádio
extemporânea proveniente de algum dispositivo terrestre nas proximidades.
"Estamos
a falar de situações extraordinárias [a captação de sinais de civilizações
extraterrestres] e, portanto, é preciso ter provas extraordinárias",
afirmou Duncan Forgan ao diário britânico The Guardian.
Por seu lado,
a astrónoma Jill Tarter, coautora do artigo na International Journal of
Astrobiology, e cofundadora do Instituto SETI, nos Estados Unidos, dedicado ao
estudo da astrobiologia e à escuta de sinais oriundos do espaço, compara a Rio
2.0 à escala de Richter para a classificação dos sismos.
A ideia é que
seja atribuída uma classificação ao sinal e que depois se faça uma atualização
à medida que os estudos progridem.
Uma busca de décadas
Iniciado em
1959, o programa SETI tem tido os seus altos e baixos, mas desde o primeiro dia
que foi acarinhado por Carl Sagan. Ele próprio, aliás, se pôs à escuta, embora
os sinais de civilizações distantes nunca se tenham feito ouvir - o silêncio
dura ainda, apesar de alguns falsos alarmes que chegaram a entusiasmar os
cientistas e o público.
Em 1993, o
programa SETI ficou sem fundos públicos, mas acabou por ser resgatado por
beneméritos e verbas privadas e ainda prossegue hoje, com maiores ou menores
dificuldades, e com a participação de diferentes grupos e radiotelescópios, que
anualmente reservam algum do seu tempo de observação para escutar potenciais
extraterrestres. Até hoje sem sucesso, apesar dos tais alarmes falsos.
O mais recente
deles ocorreu em maio de de 2017, quando o observatório de Arecibo, em Porto
Rico, captou um sinal de rádio "estranho" proveniente da estrela Ross
128, uma anã vermelha que fica a 11 anos-luz de distância da Terra.
Na altura, os
cientistas pensavam que poderia haver várias explicações, como emissões de
erupções da própria estrela, emissões de outro objeto no mesmo campo de visão
da Ross 128, ou até um incêndio nos motores de um satélite terrestre. Em último
lugar, os cientistas não descartavam a possibilidade de se tratar de uma
mensagem de uma civilização extraterrestre, mas na verdade não lhe atribuíram
muito crédito - e fizeram bem.
Dois meses
depois, já havia solução para o mistério e, claro, não eram os extraterrestres
a saudar a humanidade de muito ao longe. Tratava-se, sim, de uma transmissão de
um ou de vários satélites geoestacionários, segundo explicou a equipa do SETI
sediada em Berkeley, na Universidade da Califórnia. Os sinais, afinal, só
tinham surgido junto da estrela Ross 128 por uma questão de proximidade.
A busca, portanto, vai continuar, agora, certamente enriquecida com um novo instrumento que permite olhar para os sinais como uma nova objetividade: a escala Rio 2.0.
Fonte com adaptações: Diário Notícias - Portugal
Canal do Youtube: Canal Myllas Freitas
Nenhum comentário:
Postar um comentário